o chefe deles (esse grupo de sobreviventes tem um chefe, de doze anos e muito talento / só não mete mais medo que os zumbis / mas promete tanto estrago quanto) o chefe decidiu: a carne do menino está acabando / faz tempo não tem mais enlatados, embutidos, chocolates / é preciso matar para não morrer.
ele chega em cada um, elege-o braço direito e diz: os outros estão querendo te matar pra te comer. (o menino ensaia um choro, uma raiva, o chefe segura). fica na miúda, mas fica esperto. e numa noite se mancomuna e corta, com os garotos, a goela do mais gordinho, que estava dormindo. não faz isso por prazer, mas por necessidade: o gordinho rende mais. dessa vez abrem-lhe a cabeça e salgam os testículos. cada um tem direito a uma ração mínima por dia, não mais.
depois da janta, o de óculos se senta à janela e observa. o movimento dos mortos é o mesmo de manhã e à noite, não muda. um ou outro migra, um ou outro chega. no geral, o grupo é o mesmo. mas eles parecem mais magros, as roupas estão gastas, a carne afunda. o cheiro de carniça é forte. e há uma nuvem de varejeiras sobrevoando o condomínio. o pai dele está lá embaixo, andando, indiferente.
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