15.11.09

notícias de itaipu

na noite de dez de novembro de doismilenove, houve um blecaute no brasil. seis meninos correram para o sótão se esconder quando viram, na rua, os pais chegando. sem carro, sem alarde. e sujos de sangue.

a vizinha foi recebê-los preocupada e teve as tripas expostas, mordidas. da janela do sótão os meninos viam os vizinhos se mastigando e se erguendo, caminhando calmos pela rua, sem rumo. nenhum deles voltava a entrar em casa, a não ser que a porta estivesse aberta. quando ouviam um barulho, eles se olhavam. "a porta está fechada?". o de óculos, de quem era a casa, não tirava os olhos da rua. "a-a-acho, acho que sim". "a gente precisa conferir!"

mas quem iria? todos olhavam pro de óculos quando o celular de um deles tocou. "atende essa porra!". os zumbis lá embaixo se agitaram que nem peixe quando a luz acende. "mãe?". os meninos, em silêncio, alternam a direção dos olhos entre a rua e o amigo, que começa a chorar. "mãe, a gente tá escondido no sótão. mãe, eu tô com medo. mãe, vem me buscar. mãe. mãe? mãe!". um outro se joga sobre o menino, agarra-o com uma chave de perna e lhe tapa a boca com a mão. "shhhhhhh". lá embaixo, a cada barulho diferente é como se uma luz se acendesse: os zumbis abrem os olhos procurando reconhecer, mas logo a luz se apaga. pros meninos é que ela nunca acende. no escuro eles se encolhem, juntos, e baixinho ligam para todos os números guardados na memória dos celulares. logo vão acabar as baterias.

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