7.6.11

ainda não aprendi a ter um corpo, mas sigo tentando

o zoológico te desfaz, te
quebra os leões, savana é uma
memória. antes de olhar
o espelho eu tinha um corpo
verdadeiro, não adianta ser
nostálgico. os pés e os
pelos crescendo pra além de qualquer
útero, mergulho na piscina,
quando saio a água que evapora
rouba o meu calor pra evaporar,
aprendi na aula de física.

o frio não alivia na aula de física.

depois a gente cresce e o corpo
é uma armadilha, câncer vírus cárie
o que me espera nessa esquina?

ela desconfiava. sorte que era tonta, então podia. era a prima, a irmã, a tia. todo mundo olhava pra ela meio assim, quase indiferente. ela era uma mesa que pudesse dizer: "eu". mas que não diria. então lhe punham vasos, copos por cima.

"muito carinhosa", alguém dizia. a mãe cuidava, mas quando a mãe morreu outras cuidavam, e uma sempre lhe punha meias rosas laços rosas na cabeça, com um pano lhe lavava as partes, muito cheirosinha você é, não é?! "não é?!". a tonta sorria uma vogal sem escrita. pronto, está tão linda! e voltavam com ela pra cama. feito uma flor que se olha e se cheira e se abandona.

eu fico muito feliz nesta flor. ela é minha. mas e a flor?

o principal é isso: ela desconfia. olha pras coisas... solta o riso de retardada... pisca só o essencial. como é tonta, ninguém percebe. e fazem um churrasco no quintal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário