9.6.11

raios e trovões

é nessas tempestades, o ar
espoleta uma eletricidade

nos tempos das cavernas eu teria maior medo / minha avó tapa as orelhas / chove lá fora e aqui /

algum engraçadinho tapou o ralo da cidade com um rato morto. mentira, era um gato. viram as fotos no facebook: o engraçadinho com o gato pelo rabo, sujo de sangue, e o ralo tampado. mentira, eram pessoas. pelo rabo, sujas de sangue. era a pia do banheiro, eu tinha quinze anos e a cidade não parou de encher, de encher, a leptospirose. agora parei porque nunca perdi uma geladeira na enxurrada, semprei morei em apartamento sólidas altas casas, meu coração de alvenaria não desaloja, não sofre com deslizamentos desapropriações e não paga aluguel

meu coração é uma casa vazia, mas é minha. a presidenta diz que não pode haver gente morando em situação de risco no brasil, em palafitas. eu concordo. então queria escrever uma casa pra cada pessoa, como a minha, e todos viveremos sozinhos no sonho do próprio, grades altas sem enchente, o poder público salvará esta nação.

aqui o ralo da cidade está aberto. chove muito, mas escoa. da janela eu vejo a chuva levando nada, as valas limpas das calçadas.

minha vó, mesmo assim, tem medo. e eu, uma enxaqueca. no quarto tem goteira e faz bastante frio. anoto pra não esquecer de doar os agasalhos pras campanhas de inverno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário