12.6.11

um grande peixe nos rios mais poluídos
de são paulo, a gente sabe que um ecossistema está morrendo quando desaparecem os grandes predadores
dei pra andar na rua procurando onça
urso leão jaguatirica e não encontro, procuro
capivara tamanduá tatu cobra-cega e
não encontro

demografia dos bichos que não existem

sobra pra gente fazer toda a plural
fauna, com roupas diferentes e viagens
pra trocar fluidos, cartões-postais, teocracias
o homem é o lobo do homem
mas os homens também são escassos
o vento foi tanto fez ondas de bosta tão grandes nos rios
de são paulo, a cidade ficou inundada de merda,
as pessoas todas morreram e o noticiário europeu
deu "grande catástrofe tristeza tragédia no país de lula"
os europeu morrem comendo pepinos contaminados antraz
em cartas de amor porque hoje é dia dos namorados

comi um pepino. não saio de casa enquanto isso. a tragédia na rua, gente correndo, minha casa cai, morri também. está muito frio e ninguém consegue se proteger. dia doze de junho. os peixes futuros, com a inteligência muito desenvolvida e resistentes à morte aos vegetais à própria merda, encontram os nossos cadernos cheios de confissões tristes e esperançosas

Querido peixe,

abandonei as barbatanas e de anfíbio virei gente. hoje dormi o dia inteiro. sonhei que estava descalço e sem óculos embaixo de uma árvore o chão com muitas folhas mortas úmidas nutrientes do futuro e grande árvore ao alcance da minha mão cheia de frutos que eu não via direito, eram melões, pensei, daqueles lindos, redondos verdes japoneses, a casca em linhas parece uma pele quebrada, tive ganas de lamber, meus pés se afundavam nas folhas e eu pensei AI MEU DEUS UMA COBRA VAI ME MATAR porque era possível uma cobra quieta perigosa no sono do meu pé. com medo da cobra, querendo a língua, peguei o fruto e saí depressa, andando feliz e olhando, pus o grande na boca e era redondo mas sem a luz contra e calmo vi que era vermelho, amarelo, e não continuei comendo porque tinha teias de aranha, outro bicho que me dá medo

(uma coisa que você deve saber, peixe futuro, é que a gente não aprendeu a não ter medo, flores amarelas e medrosas)

era uma manga!

Fim da carta ao peixe. fim da linha pra mim. ninguém morreu.

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