17.6.11

hino nacional

nos melhores desejos de que o crescimento econômico do país
se afogue na represa de belo monte, o curso dos rios desviado,
o sangue nas pantufas dos militares, as necessidades ancestrais
dos indígenas seriam muito melhor plano de governo, ficaríamos
todos sentados embaixo das árvores, enterraríamos vivos os nenéns
nascidos gêmeos, supersticiosos não ousaríamos olhar nos olhos
do bicho-preguiça, do macaco-aranha, mais poderosos do que a gente.
desejo também uma pobreza extrema nas alegrias. a raiva que eu tenho
bem poderia inundar a cidade e os fornos de micro-ondas, os ferros
de passar nas tomadas eletrocutariam a nação. mas minha raiva não pode
mofar, sozinha, o palácio da alvorada, o palácio dos bandeirantes

em portugal eu subi até o topo de um castelo de pedras e vi
escorrendo pela montanha o sangue de quinze séculos

mas aqui as estradas são novas. não temos vulcões nem terremotos
que destrocem as casas. a natureza é muito boa. o inferno verde da
amazônia facilmente cede lugar a bois mansos e entediados. os peidos
dos bois agravam o efeito estufa e assim ficamos quentinhos, gostamos
muito do calor. a raiva que eu tenho bem poderia fazer churrasco de
ministros e mães, da presidenta, carvão e petróleo assando os
helicópteros e os cristãos. falando assim, minha raiva até parece
selvagem. mas o que de pior a europa nos legou foi a civilização.

eu faria uma usina hidrelétrica sobre toda a europa. me mudaria para o sul
dos estados unidos e plantaria milho. ganharia o nobel por renovar a prosa
do mundo e me mataria em homenagem ao deus asteca. explicado tudo isso,
percebo porque existo tanto no futuro do pretérito. uns versos é só
o que tenho / enquanto não me junte às foices do movimento dos trabalhadores
sem terra / enquanto não seja eleito pessoa inelegível. o que posso fazer
é oferecer outra história pra essa gente. não falemos a língua delxs.
comecemos

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