19.6.11

a força

alguma coisa falta. os quatro pés da mesa. eis: a mesa em pé. é um equilíbrio conseguido a duras custas, exercícios lógicos e muito tempo de evolução.

na mesma época, foi criado o homem vertical. ele está aí, ainda hoje, quando não se deita. meu homem é um eixo que estabiliza o mundo. eu sou meu homem / vejo de longe, quero ser. por isso tenho a cabeça pra cima e os pés pra baixo.

outro dia, esqueci o que era "cima e baixo". demorei para sair da cama. o quarto rodava ao redor da minha cabeça. bateram na porta, eu não estava. "deve ter saído", pensaram. e foram embora, me deixando sozinho e ignorante.

as pessoas desceram as escadas e entraram na rua. numa padaria, cada uma pediu uma coisa. algumas pediram coisas iguais, outras pediram coisas diferentes. a vida é assim.

assim, assim. enquanto isso, eu soletrava pra mim: "assim... assim...". aquilo me deu uma vertigem e até agora estou sentindo enjoo. depois, o corpo reaprendeu sozinho as leis gravitacionais. "nos quitaron la justicia y nos dejaron la ley", eu vi escrito num cartaz.

a lei da gravidade não é justa?

fiquei sem saber outra vez. agora eu levantei, mas caí. decido esperar mais um pouco. brinco de soletrar outra vez: "isaac newton". vejo o meu homem, na minha imaginação, cruzando a rua: vertical, passageiro. tenho enjoo.

as pessoas, cada uma foi pra sua casa. outro problema que tenho é olhar em volta e pensar "gente, eu tenho casa?!". qualquer dia morro de espanto.

vou contar só mais uma coisa, e depois dormir. se eu morrer durante o sono / bem, se eu morrer, desejo o melhor pra vocês. eu quero morrer, mas tenho medo. também tenho muita vontade de viver, mas tenho medo. como com medo não se faz nada, mando o medo à merda, mas não me decido. às vezes acho que já morri. ou que isso nem existe. o que eu ia contar, mesmo? é muito importante: que perdi a contagem dos números. precisei escrever "2009", o ano, e isso me pareceu absurdo.

tudo é muito absurdo.

graças a uma justiça sem leis, tudo uma hora cansa. cidade, ó cidade: se canse também. ó mundo, ó fim. (será que já consigo levantar?)

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